Assim que o velho estendeu sua mão, eu soube que não tinha mais volta. Não existia a possibilidade de dizer que inventei tudo, muito menos dar para trás e tentar fugir com a cidade inteira podendo se virar contra mim. Eu senti a adrenalina tomar conta do meu corpo e engoli forçadamente a saliva que desceu pela minha garganta como fogo. Tentando disfarçar, respirei fundo. Há tempos eu não tinha aquela sensação de estar prestes a... bem...

— Como quiser. — respondi me aproximando e segurando na mão do homem à minha frente. Eu sabia por sua expressão que minhas palavras não tinham sido tão convincentes quando eu gostaria. Ele deixou claro que não confiava em mim, mas eu também não confiava nele. Refém da situação que eu mesmo criei, apenas respirei fundo mais uma vez esperando algo acontecer. Quando senti aquele formigamento familiar do teletransporte, admito que me assustei. Não dava mesmo para voltar atrás a partir daquele ponto.

Acompanhei o velho em silêncio. Admito ter me sentindo acuado quando notei se tratar de uma prisão. Talvez ele tivesse percebido alguma coisa e me atraído para aquela armadilha. Se fosse o caso, o feitiço tinha se virado contra o feiticeiro. Me permiti relaxar quando notei ser algum tipo de procedimento padrão, já que ele me levou até um Ranger supostamente capaz de detectar mentiras. Para um mentiroso como eu, estar naquela situação era como estar sendo questionado sobre minhas próprias habilidades. Ansioso, vi o velho se teleportar para algum lugar e então ouvi calmamente os questionamentos do guarda. Ele queria saber a verdade? Então eu lhe daria isso. Só que seriam as verdades contadas do meu jeito. Estava ansioso para testar os limites desse seu poder de detectar mentiras.

— Algumas horas. — respondi a primeira pergunta, lembrando que não deviam ter feito nem vinte e quatro horas desde o incidente no ferro velho. Até ali, não precisei manipular a verdade. Então prossegui — Eu estava no ferro velho, deitado no chão. Quando me levantei eu os vi. Foi quando começou a situação com os androides. — aqui eu precisei mudar um pouco os fatos. Sim, eu estava deitado no chão do ferro velho, mas isso porque fui teleportado para lá junto com os outros Rangers. Desviei do motivo de eu estar no chão ao já comentar sobre tê-los visto ao me levantar, o que era uma verdade assim como a parte dos androides — Eu não tive contato com os morfadores deles. Na verdade, exceto por conversas, não tivemos nenhum contato mais direto. Mas eu os vi morfando, sim, até porque foi quando decidi me aproximar deles. — aqui novamente uma verdade distorcida. De fato, não tive contato com os morfadores deles e nem mesmo com a rede a partir deles. Sim, tive contato com a rede, mas a partir do meu próprio morfador, o que não fazia parte da pergunta e portanto não achei necessário comentar. A parte de decidir me aproximar deles depois de confirmar que eram Rangers também não era mentira. Eu não sabia onde estava e ainda não estava disposto a descobrir isso sozinho. É verdade que eu tecnicamente estava colaborando com eles antes disso, mas foi só naquele momento específico que eu decidi me aproximar e formar uma aliança.

— Sei o nome de alguns, sim. A garota se chama Suzy, é a que estava fugindo em Rezina. O garoto com ela se chama Ace. No ferro velho outros dois se apresentaram como Kronos e Yamato. O último deles eu não acho que se apresentou. Se o fez, não lembro o nome. — puxando na memória, eu não conseguia lembrar do Ranger Preto ter falado o seu nome. Aliás, não hesitei em falar meu próprio nome falso, "Yamato". Eu não pretendia mais usar aquele nome, porque com aquelas pessoas ali ao meu redor eu seria eu mesmo. Aliás, já estava sendo Sukune, o falso, desde que cheguei ali — E não, não sei mais onde estão. Acompanhei aqueles dois até Rezina, mas considerando a perseguição... bem, se não foram capturados, acho que podem estar em qualquer lugar a essa altura. Kronos e o que não sei o nome não faço a menor ideia de onde possam estar. — encerrando com mais verdades, eu esperei que tivesse sido convincente o suficiente. Calculei cada sílaba cuidadosamente, então ficaria surpreso se tivesse falhado em convencer o guarda à minha frente.