A casa do senhor não era tão distante da entrada do bairro. Kenshin e ele precisaram andar somente dois quarteirões antes de virarem à direita. Como bem observado pelo andarilho, aquela área não era nada nobre quando comparada à região da ponte ou, claro, com o grande castelo feudal. Cenários como aquele eram costumeiros nos vilarejos adjacentes à Amegakure. A maior parte dos moradores são cidadãos comuns; fazendeiros, agricultores ou meros vendedores de esquina. Pouco têm para manterem subsistência, quem dirá para alavancar na vida, isso sem falar nos impostos e taxações que são cobrados pelo feudo. Injusto para a enorme maioria, que não tem forças suficientes para vencer o exército do império, o que impede a formação de uma milícia rebelde.

– Aqui, rapaz. Esta é minha casa. – Disse ele após cerrar os pés no solo arenoso em frente à uma humilde morada, a única de paredes de madeira e teto de palha na rua repleta de residências de alvenaria. Tinha um cercado de madeira com um pequeno jardim verde à frente; a grama molhada tinha um cheiro único, um bálsamo que faria o pútrido odor cadavérico do Mercado Negro enfim desaparecer às narinas do espadachim. Abrindo o postigo, ele adentrou, enfim imergindo na, até então, escura morada, que não tardou a ser desentenebrecida por uma meia-luz assim que o vetusto acendeu uma lamparina a óleo com uma espécie de incenso. – Obrigado pelas compras! Pfu... – Assim que agradeceu, assoprou o palito de madeira cuja ponta incendiava. Uma breve fumarola tomou conta do espaço, dispersa pela sua pequena mão em abano. O ruído da chuva que despencava contra a palha era, provavelmente, diferente de tudo que o rapaz já ouvira. Não era tão abafado como a água que atinge um telhado de cerâmica, tampouco estridente como a que atinge construções de metal; era seco, robusto, mas bem vívido. Em algumas regiões da casa, o assoalho aglomerava pequenas poças em virtude de goteiras, mas o velhinho não parecia se importar. – Você bebe chá? – Perguntou, enquanto enchia um bule com água, que foi levado a um forno à lenha logo depois. Apesar de pequeno, e da idade, o longevo parecia bem ágil. – Bem... Sofremos com ele há meses, então sabemos até de sua aparência! É... É um homem esquisito. Pele branca como se estivesse morto, cabelos longos e vermelhos como se tivessem sido pintados com tinta guache! – Falava com as mãos ao lado do rosto, de dedos enrijecidos, como se contasse uma história de terror. Sua feição parecia imitar o ladrão, ou tentava ao menos. – Ele carrega um pergaminho e um pincelzão por aí! Ele é muito habilidoso com pintura, mas a principal razão para seus roubos serem tão efetivos é... – O dramático silêncio que o velho deixara antes de revelar a informação foi, pouco a pouco, preenchido pelo silvo da chaleira, que crescia gradualmente. – Ele é um encantador de galinhas! – O bule apitou em sua maior intensidade e o homem sobressaltou, como se tivesse levado um choque, imediatamente indo à cozinha, saltitando. – Oh não! O chá! – Falava ele, nitidamente preocupado, interrompendo momentaneamente a palra. Instantes depois, retornou com a chaleira, duas xícaras e dois saquinhos preenchidos com uma erva natural. – Pois bem... Onde é que eu estava mesmo? – Perguntou retoricamente, erguendo os olhos ao topo das órbitas, como se resgatasse a resposta na própria mente. – Oh, claro, claro! Bem, como eu ia dizendo... De alguma forma, as galinhas obedecem a ele fielmente! Algumas até atacam os donos! – Sua êxtase virou melancolia, abaixando a cabeça junto ao tom. Até parecia que ele havia sofrido um ataque desses; e era bem provável que sofrera. – Sabe, às vezes ele é visto pintando no lago da cidade, mas sempre que tentamos capturá-lo, ele simplesmente sorri e some! É um bastardo! – Cerrou os dentes. As rugas extremamente notórias no rosto crispado, que expressava plenamente sua raiva pela injustiça que ele e o povo do vilarejo têm sofrido. Então, ele puxou ar pelo nariz, como se o limpasse de lágrimas prévias. Enquanto ouvia Kenshin, encheu ambas as xícaras com o líquido quente, que, de tão cálido, emanava um vigoroso vapor. Pouco a pouco, os saquinhos de chá na borda das chávenas eram consumidos, garantindo à água um tom amarronzado, embora límpido. – Por... Por favor, jovem... Ajude-nos! Prenda esse homem! – As lágrimas que ele tanto segurou enfim venceram, vertendo sobre a face a caminhar pelas trilhas que suas gelhas deixavam.

Com todas as informações na mesa, restava a Kenshin planejar seu próximo passo e, quem sabe, dar um pouco de alegria ao vetusto.

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OFF – Poste aqui e, posteriormente, aqui: Pequeno Lago.

NPC's:

Missão Rank C
Objetivo: Captura.
Descrição: Moradores do Vilarejo Tenshi têm reclamado há meses de sucessivos roubos de galinha, o que tem gerado danos econômicos na aldeia, pois a maior parte vive dessa domesticação de subsistência. Há três semanas, algumas das vítimas, revoltadas com a continuidade dos furtos, juntaram-se e procuraram o Mercado Negro local, colocando uma recompensa para quem capturasse o ladrão. Mas, lembre-se: querem-no vivo!